Chart of the Week | [Francesco di Antonio del Chierico], [c. 1471], [Italy]
Author | Autor [Francesco di Antonio del Chierico]
Date | Data [c. 1471]
Country | País [Italy]
Archive | Arquivo Bibliothèque nationale de France
Call number | Número de Catálogo Latin 4801
Dimensions | Dimensões 550 mm x 720 mm
This curious chart forms part of a manuscript translation of Ptolemy’s Geography, compiled in several phases starting in the late 15th century (the codex was offered to Borso d’Este in 1471) and with additions in the early 16th century. On the complicated story of the changing ownership and content of the codex, the bibliographic notice and conservation history written by Emmanuelle Vagnon and Marie-Pierre Laffitte gives an excellent account. Our interest here is in a thoroughly non-Ptolemaic map included in the volume and apparently drafted around 1471. The chart, which depicts the far western Mediterranean and the Atlantic coasts from Brittany to the Gambia river together with the main islands of Cape Verde group, is based on contemporary nautical cartography, as understood by the Florentine illuminator Francesco di Antonio del Chierico, the artist who most likely produced it. Its coverage is not unlike the c. 1471 Portuguese chart at the Biblioteca Estense Universitaria, although the latter chart extends much further south along the West African coast and the set of place names is different.
The chart shows some marked divergences from typical late 15th-century nautical cartography – unsurprising in light of its authorship. For example, while normal sea charts kept most placenames in black ink, punctuated by red for important places, here the preponderance of toponyms are red, with a lesser number written in blue. The network of compass lines is drafted with very low geometrical precision, which would have been very problematic in charts meant to support navigation. Another notable feature is to be found in the Iberian Peninsula, where the rivers Guadalquivir and Segura are joined, rendering the entire southeast of the peninsula an island. The same configuration can be found in several works of Majorcan cartography, such as the 1330 chart of Angelino Dulceti.* On the other hand, the place names on the west coast of Africa have a Portuguese origin. As was commmon at the time, the chart shows the contribution of various sources.
Chierico’s chart must have been a direct copy of a nautical chart, with most of its coverage derived from the ongoing Portuguese expeditions along and mapping of the African coast. Although it is not immediately obvious how the replication was made, a preliminary drawing is occasionally visible – for instance, on the coastlines north and south of the Strait of Gibraltar. Revisions in ink are also sometimes seen, as at Cavo das Barbas (in present-day Western Sahara) where the shores of a bay are drawn and redrawn, and at C[av]o de tres gatti (in present-day Mauritania), where a cape was removed. Additionally, Chierico struggled with the many inlets interrupting the continental coasts – sometimes he appears to have overlooked them when drawing the shore in black ink, later adding them back in with red. With all its “flaws,” Chierico’s work is a precious witness to the ways a non-chartmaker understood the formal conventions of nautical cartography.
It is worth questioning why Chierico has included a nautical chart in a copy of Ptolemy’s Geography, a text that details an entirely different system for mapping the world. The answer may be that by the late 15th century, urbane elites like Borso d’Este (the recipient of the codex) wished for more information than Ptolemy’s maps could provide. As the known world expanded, novelties were being recorded in nautical charts, not Ptolemaic maps. Thus, Chierico savvily offers his patrons both sorts of maps, satisfying their curiosity about the world and allowing them to compare, side by side, two distinctive traditions for its depiction. Notably, by enclosing both types of map in the same border and using the same gilt lettering, Chierico does not appear to favor one cartographic paradigm over the other. Although acknowledging their differences, the Florentine illuminator seems to suggest their equal merits.
Versão Portuguesa
Esta curiosa carta náutica faz parte de uma tradução manuscrita da Geografia de Ptolomeu, compilada em várias fases a partir do final do século XV (o códice foi oferecido a Borso d'Este em 1471) e com acréscimos no início do século XVI. Sobre a complicada história da mudança de propriedade e conteúdo do códice, a nota bibliográfica e a história da conservação escrita por Emmanuelle Vagnon e Marie-Pierre Laffitte fornecem um excelente relato. Este texto foca-se numa carta não-ptolomaica incluída no volume e aparentemente elaborada por volta de 1471. A carta, que representa o extremo oeste do Mediterrâneo e as costas atlânticas da Bretanha ao rio Gâmbia, juntamente com as principais ilhas do grupo de Cabo Verde, baseia-se na cartografia náutica contemporânea, conforme entendida pelo iluminador florentino Francesco di Antonio del Chierico, o artista que provavelmente a produziu. A geografia abordada não é diferente da carta portuguesa de 1471 na Biblioteca Estense Universitaria, embora esta última se estenda mais para sul ao longo da costa da África Ocidental e o conjunto dos nomes geográficos seja diferente.
A carta mostra algumas divergências marcantes relativamente à cartografia náutica típica do final do século XV, o que não é surpreendente à luz da sua autoria. Por exemplo, enquanto as cartas náuticas usuais representavam a maioria dos nomes dos locais a tinta preta, reservando o vermelho para lugares importantes, aqui a maioria dos topónimos estão escritos a vermelho, com um número menor escrito a azul. A rede de linhas de rumo é desenhada com uma precisão geométrica muito baixa, o que seria muito problemático em cartas destinadas a apoiar a navegação. Outra particularidade encontra-se na Península Ibérica, onde se unem os rios Guadalquivir e Segura, transformando todo o sudeste peninsular numa ilha. A mesma configuração pode ser encontrada em muitas cartas de origem maiorquina, tal como a carta de 1330 de Angelino Dulceti. Por outro lado, os nomes geográficos ao longo da costa ocidental de África são de origem portuguesa. Como era comum na época, Chiero baseou-se certamente em várias fontes para construir esta carta.
A carta de Chierico deve ter sido directamente copiada de uma carta náutica, reflectindo a cobertura e a cartografia das explorações Portuguesas ao longo da costa de África. Embora não seja imediatamente óbvio como a replicação foi feita, desenhos preparatórios são ocasionalmente visíveis, tal como na linha de costa a norte e a sul do Estreito de Gibraltar. Emendas a tinta também ocorrem, como em Cavo das Barbas (no actual Saara Ocidental), onde as margens de uma baía foram desenhadas e redesenhadas, e em C [av] o de tres gatti (na atual Mauritânia), onde um cabo foi removido. Chierico teve também de lidar com as muitas enseadas que interrompiam as costas continentais. Por vezes, parece até que estas foram ignoradas ao desenhar a linha de costa com tinta preta, acrescentando-as depois a vermelho. Com todas as suas “falhas”, a obra de Chierico é um precioso testemunho acerca da forma como um não-cartógrafo entendia as convenções formais da cartografia náutica.
Resta-nos questionar o motivo pelo qual Chierico incluiu uma carta náutica numa cópia da Geografia de Ptolomeu, um texto que adopta um sistema de mapeamento do mundo totalmente diferente. A resposta poderá ser porque, no final do século XV, elites urbanas como Borso d'Este (o destinatário do códice) desejavam mais informações do que a que os mapas de Ptolomeu poderiam fornecer. À medida que o mundo conhecido se expandia, as novidades eram registadas em cartas náuticas, não em mapas ptolomaicos. Assim, Chierico sabiamente oferece aos seus patronos os dois tipos de mapas, satisfazendo a sua curiosidade pelo mundo e permitindo-lhes comparar, lado a lado, duas tradições distintas de representação. Ao utilizar o mesmo tipo de cercadura e as mesmas letras douradas nos dois tipos de mapa, Chierico não parece favorecer um paradigma cartográfico em detrimento do outro. Embora reconheça as diferenças, o iluminador florentino sugere, talvez, que têm méritos semelhantes.
Further reading | Leitura complementar
Casais, M. H. (2009). Granada en los atlas náuticos de al-Sarafi, e identificación de un modelo mallorquín para la carta de al-Mursi. Al-qantara: Revista de estudios árabes, 30(1), 221-235
Gautier Dalché, P. (2009). La “Géographie” de Ptolémée en Occident (IVe–XVIe siècle). Turnhout: Brepols.
Pérez, S. S. L. (2006). La Reconquista cartográfica: el Islam peninsular en la cartografía medieval hispana. Treballs de la Societat Catalana de Geografia, 279-301.
Vagnon, E. and Laffitte, M-P. (2004). Latin 4801 (bibliographic note and conservation history). https://archivesetmanuscrits.bnf.fr/ark:/12148/cc636763
Van Duzer, C. (2014). The Ptolemaic Wall Map: A Lost Tradition of Renaissance Cartography. Viator, 45(1), 361-389.
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